Alguém me ensinou a segurar a longneck pelo gargalo pra não aquecer a cerveja com o calor das mãos. Certa noite, saindo de um restaurante, eu me dei conta que o garçom me atendeu tão bem, mas eu já estava na porta e só tinha dinheiro inteiro. Eu me virei para o salão e gritei “Deus te abençoe!”.

Um dia eu aprendi que a gente não deve tentar mudar as pessoas e que se realmente pararmos de tentar podemos até gostar delas de verdade. E quando se gosta de verdade verdadeira é difícil reverter, mesmo depois de descobrir seus piores segredos e defeitos.

Amores não são substituíveis. Mas também não existe um só. Se não for possível viver uma nova vida sem ter que apagar tudo que se passou antes, eu não sei se quero ter uma nova. Melhor acreditar que os amores sempre ficarão guardados em algum lugar diferente, mas não no melhor lugar… e o melhor lugar será sempre o lugar do novo.

Um dia eu aprendi que nem sempre uma tatuagem feita em nome do passado é um arrependimento. Certas coisas morrem de verdade, mas não significa que nunca existiram. A melhor parte de tudo é aproveitar. Pode ser que a dor seja a melhor parte de uma história, pode ser que a alegria seja a melhor parte de uma história. Pode ser que exista uma história só pra se sentir saudade. Pode existir uma história onde o ponto alto vai ser o fim.

Deve ser mais importante ter vivido o ponto alto de uma história com fim, do que viver pra sempre um longo caminho sem graça.

Talvez as escolhas erradas também tenham um final feliz. Talvez não existam escolhas erradas. Talvez não existam escolhas certas, apenas escolhas. Eu já estive certa de algo, mas nunca disse. E também já tive dúvidas, mas ainda assim falei muitas vezes.

Eu tenho andado nos últimos meses numa esteira, mas eu não sei descer. Querer é tão difícil quanto poder, ao contrário do que muitos pensam. Todo mundo diz que a pior dor do mundo é a sua própria. Você pode sofrer de querer e não poder, mas poder e não conseguir querer também magoa.

Eu sempre digo que o melhor a fazer é escrever num papel todas as coisas que te assustam e começar a pensar em cada uma delas separadamente: o que é possível resolver, o que não é. Mas os conselhos mais rejeitados são os que tentamos dar a nós mesmos.

Eu poderia negar subir todas as escadas para os melhores dias, e abriria mão de qualquer riqueza por estar daquele lado, o melhor lugar. Me falta entender que o melhor lugar é uma invenção. Se eu não posso estar lá, então não é uma alternativa. Mas ainda é a minha primeira opção. Lá está a menininha sentada na cadeira, a última da turma a terminar a prova, presa numa questão de múltipla escolha e irritada porque não quer aceitar nenhuma das opções. Porque uma alternativa que não existe é minha primeira escolha.

Não parece tão insensato depois de tudo isso não querer mais amar alguém de verdade, mas ao mesmo tempo eu sou o maior exemplo de que as pessoas não são todas iguais e eu não tenho medo de errar por repetição: podemos até gostar de verdade quando realmente paramos de tentar mudar tudo em alguém.

Os dias não vão me esperar mudar. Os anos não vão parar até que eu esteja pronta. Nenhuma folha vai deixar de cair porque eu não quero que a vida siga. O ciclo continua de um outono a outro e o maldito tempo vai consumindo, dia após dia, a única coisa que eu tenho direito em vida: viver.

Sim, enquanto estamos vivos o único direito que temos é de viver. O seu dinheiro, seus amigos, sua família, tudo pode ser tirado de você a qualquer momento. O que passar de viver, ora se vamos ser alegres ou tristes, se vamos poder aproveitar, se vamos ficar doentes, se vamos ter filhos, se eles vão ter saúde, nada disso está sob o nosso controle. Nós só podemos fazer o melhor e esperar o melhor. Mas amanhã, ou daqui a poucos segundos, uma notícia pode acabar com a sua felicidade, ou acabar com a tua miséria.

Então não se iluda de que “é de cada um buscar e ser feliz”, porque resultado da tua busca ninguém saberá, apenas vivendo. O segredo então é não deixar o tempo roubar nenhum segundo da sua vida, não desperdiçar seus melhores anos olhando para o passado ou para um futuro utópico.

Viver é só uma escolha. Seja uma escolha por afirmação ou escolha por covardia, mas uma escolha. Cada um com seus motivos.