Essa saudade cortante que não vai embora. Queria mandar um SMS fofo, mas tenho medo de acordá-lo. Eu e minha mania de poupar os outros.
A anos que me passo por indiferente e insensível poupando todo mundo das minhas confusões, mas nunca tinha percebido que fazia isso com enorme frequência. Talvez uma frequência nada saudável. Ele me disse que não é saudável, mas olhando a fundo eu já tinha sido avisada muito antes…
Eu poupo meus amigos da minha amargura e quase nunca conto o que está passando de verdade. Minha melhor amiga que me conhece a 11 anos, só nos últimos 2 anos passou a receber relatos de tudo que acontece, já é um avanço meu.
Mas não é com qualquer pessoa que se tem a chance de 8 anos pra reparar o erro. Você poupa, a mensagem chega de forma errada e você perde alguém. Alguém como o Mar. Eu perdi um amor por poupar uma vez, e perdi um amigo por poupar a segunda.
Eu bati na porta dele por uma semana sem resposta.
_Uma semana? _ Ele disse dois anos depois. _Você tentou por uma semana, não conseguiu nada e você chama isso de amor?
Pior que eu chamo de amor. Respeitar que a outra pessoa não quer e seguir em frente é amor! Poupar do importuno…
_ Importuno? Tudo que eu queria era saber se você realmente estava certa do que estava fazendo!
É… Eu não leio pensamentos. Matei o sentimento. Sem dó nem piedade; porque se um dia ele me ensinou a seguir em frente, eu devia honrar meu professor mostrando que aprendi a seguir em frente. Ops, my bad.
Numa tentativa frustrada da natureza de re-alinhar nossos planetas dois anos depois, eu banquei a insensível e fria. Dava pra ver a geleira no meu rosto. Só que dentro dos olhos devia dar pra ver a fornalha, mas eu não abri os olhos e não disse uma palavra. Eu não poderia dar pra ele nada além da minha apatia, e vê-lo tentar achar dentro de mim a garota que conheceu dois anos atrás me partia o coração. E ele tão novo, com tantas possibilidades pela frente, tão livre. Claro que eu me importava, eu daria o mundo todo pra ser diferente, mas meu coração foi pra outro lado. Tinha jeito? Sim! Quando? Não sei! Não valia a pena esperar, eu tive que poupar. Cortar pela raiz. Falar em alto e bom som o quanto ele me dava sono e não importa o que fizesse eu não era quem ele estava procurando, pra nenhum efeito. E tive que vê-lo me olhar procurando por um pequeno suspiro de tristeza, pra ele se agarrar numa tola esperança que tudo daria certo no final; mas nada aconteceu. Eu não suspirei. Eu não disse absolutamente nada.
E a monstra perdeu um amigo. Alguém que ainda poderia estar por perto. Mas, na hora, poupar parecia ser a única solução. A minha redenção é que ele está muito feliz. O meu conforto é saber que me conhecer foi a segunda melhor coisa que aconteceu na vida dele. E eu ter saído da sua vida foi a primeira melhor coisa.