Enquanto eu fico protelando o adeus, reconstruindo diálogos, os dias e os algos que eu disse, que poderiam ser desditos e distorcidos pra fazer você ficar.
Enquanto eu fico remoendo a despedida, resumida em adeus e fim. Sem tapas na cara, sem gritos, sem sangue; só meu choroso e irritante jeito de dizer que eu me importo. Jeito vão de te pedir uma única razão pra eu ficar, quando era você quem estava indo embora.
Enquanto eu passo e repasso a culpa de frente ao avesso e não me encontro nela e não te encontro também. Quem pode ter culpa por apenas não gostar de alguém? Não pretendi rimar, mas foi o que aconteceu, por que não foi simples assim, entre você e eu?
Enquanto eu olho o relógio e os minutos não passam, eu encho os dias e pensamentos de água filtrada e sol, e faço chover nos nossos dias de açúcar pra vê-los ir embora, mas não vão por inteiro.
Enquanto eu tento não me importar, não ler, não ouvir, não saber, não estar, e assim não leio, não ouço, não sei, não estou, mas a minha sombra deve dormir todos os dias do lado de fora da sua janela pra te ver acordar. Dou falta dela, às vezes, e tenho medo de você perceber que tem duas sombras te seguindo durante o dia.
Enquanto eu caio na real que você tem apenas 3% de mérito por tudo isso, pelos raros três momentos que me deu algo completo. Porque, não, não te considero um fracassado como você pensa, mas você não é nem 16% do que gostaria de ser e sabe disso. O restante é apenas minha certeza que você ainda vai ser grande, mas não será sozinho, ou vai seguir o caminho mais longo.
Enquanto me recordo da referência circular, quando você dizia que eu ainda vou encontrar alguém que não ache meus defeitos tão irritantes, e eu não consigo achar a culpa de eu ter sido irritante, senão na sua gradativa apatia. E você põe a culpa da gradativa apatia nos meus defeitos irritantes.
Enquanto eu penso que bastaria parar, resolver e não desistir tão cedo, você me lembra em pensamento que cedo é tudo que poderíamos ter, porque eu não sou pra você mais tarde. E enfrento essa realidade: mesmo que durássemos mais uma estação, nós ainda teríamos o prazo de validade imposto por você e, vencida, consigo dormir.
Enquanto eu não esqueço nada, você ri.