Sobre o texto “A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem NÃO quer” da Ruth Manus
Ruth, eu concordo com muitas palavras suas, considerando que você fala por uma parcela de mulheres e não que todas as mulheres sofram dessa síndrome de sucesso profissional. Partindo do princípio que a mulher-exemplo do seu texto chegou onde chegou por suas próprias escolhas, há muita esperança.
Um pouco diferente da sua história é que minha mãe me criou pra casar e me ensinou que mulher tem que ser submissa ao homem. Apesar de não ter me forçado a aprender a cozinhar, e até ter me matriculado na faculdade, uma das maiores frustrações da vida dela foi eu ter trocado casamento e filhos por morar sozinha e viver a vida do meu jeito.
Muito diferente da sua história, é que eu me criei pra ser quem eu sou, ninguém me criou. A partir de uma certa idade eu parei de ligar para os desejos dos meus pais. Não é difícil identificar a grande frustração do seu personagem por não agir igual. E eu concordo com você. Por criação ou por opção, ser independente é, em um certo ponto, frustrante. Mas é bem mais fácil de resolver quando você sabe porque chegou ali: Porque eu quis. Porque eu segui o meu instinto de mulher e acordo todos os dias com esse poder nas mãos, e amo! Mas a sua pergunta é: qual homem vai amar? Eu te digo qual!
Eu achei perfeita a sua declaração que as malditas sogras querem noras que se dediquem inteiramente à família. Malditas por minha conta. Sabe o que eu penso disso? Foda-se. Nem minha mãe me diz quem eu deveria ser. Só penso, claro, e me finjo de desentendida, pra não desrespeitar ninguém.
Eu conheço um homem, pelo menos, que acha a mulher independente o máximo. Quando ela reclama que o pé deu bolha por causa do salto alto ele vem com uma bacia: “Tadinha, toma sua bacia de escaldar o pé!”. Sábado à noite, quando ela diz que quer sair com as amigas e vai ter álcool no meio, ele dá um beijo na testa e diz: cuidado e divirta-se! Ela é um super desastre na cozinha, mas ele não liga. “Sexta vou te preparar um jantar”, ela diz, e ele replica: “não precisa ser nada elaborado! faz qualquer coisa rápida ou a gente sai, você já trabalhou o dia todo!”. Final do ano ela vai fazer sua primeira EuroTrip e nem será sozinha, mas com um amigo. Sabe o que ele pensa sobre isso? “Vocês precisam ir à Barcelona e Roma, não percam tanto tempo em Amsterdã!”. Ele compartilha com ela o seu não desejo de ter filhos, seu não desejo de casar, o desespero por liberdade e por momentos juntos. Com todo equilíbrio. Ele admira sua paixão pelo trabalho justamente porque ele dá a vida pelo trabalho, e com muito prazer. Mas ela não poderia curtir todas essas qualidades, se fosse como grande parte das mulheres solteiras aos 30: frustradas, desacreditadas, inseguras e possessivas.
Viajar com um amigo? Homem que ama de verdade não dá toda essa liberdade! Ahhh ele deve ligar pra outra enquanto você está com suas amigas, porque acredita que você está fazendo o mesmo. Um “homem” com toda essa compreensão? Não deve ser Homem!
E por aí vai…
Mas essa não é ela. Meu personagem não cresceu escolhendo mal e, consequentemente, sendo mal amada, pra não acreditar que honestidade existe. Ela tem um ou dois ataques de insegurança por ano, mas isso não a faz insegura. Ela não se acha dona de ninguém, não “deixa” ou “deixa de deixar” ele fazer alguma coisa; quem decide pra onde ele vai e com quem vai, é ele. Se duas pessoas tiverem a mesma concepção de respeito e lealdade, isso funciona muito bem.
Ruth Manus, esse homem existe, mas sabe porque você ainda está “na luta”?
“Não somos quem vocês querem que a gente seja! E nem queremos ser! Mas não vamos andar pra trás.” “Nós já nos abrimos pra ganhar o mundo. Agora é o mundo tem que se virar pra ganhar a gente de volta.”
A questão é que não é uma luta. Homem não gosta de briga. Resolva-se, descubra quem você quer ser, sai da sombra da sociedade e da sua sua família, pra, então, estar disponível pra viver algo simples. Alguém vai se interessar por quem você é, mas só depois que você resolver quem é, e se orgulhar disso.
A sociedade não vai parar de tentar nos moldar, mas o peso da frustração só vai cair, de fato, sobre os ombros de quem não souber porque seguiu essa direção.