Escrevi pra você. Desculpa se sou triste.
Quando eu te conheci, não acreditava que no mundo haveria alguém que fosse meu plural. Eu, no singular, andava pela sombra, andava de cabeça baixa, andava de fones de ouvido pra não ver ninguém, nem ver onde pisava. E normalmente tropeçava. Mas você sendo meu plural, eu me tornei normal, apesar de não. Posso ouvir piano nas caixas de som, e ver filmes clássicos, ouvir ópera alto, posso chorar te ouvindo tocar e você não tira como tristeza.
Quando eu te conheci não sabia que alguém poderia ter as mesmas ideias que eu. Por mais que muitas delas sejam apenas meus ideais… eu estou longe de ser a perfeição que gostaria, mas você… De alguma forma… é.
Quando eu te conheci eu era esta música. E quando esta música te olhava, se alegrava. Hoje, te admira. Admira seu jeito de acordar pra trabalhar, de falar da sua família, de falar de respeito, de sinceridade, de bondade, se ser verdadeiramente altruísta. Seu jeito de fazer o que gosta, de não deixar pra depois, de não deixar ninguém te mudar, de não cair na pilha, de ser verdadeiro. De tocar “O Mistério do Planeta”. De me deixar fazer as minhas escolhas, de amar, de confiar, de elogiar, de estar presente, de se importar, de cuidar, de confortar, de fazer rir… De se esforçar pra ser o melhor. De ser o melhor fácil. Muito fácil. De ouvir, de se dedicar, de fazer por onde, de ensinar, de agradar, de agradecer, de reconhecer.
Quando eu te conheci não sabia que era possível acumular tanta sorte. Eu acho que nunca vou ganhar na mega sena porque gastei toda minha cota de sorte com você. Não queria ser repetitiva, mas não tem como falar de você sem falar de sorte. Licença poética por essa repetição.
Quando eu te conheci não sabia que era possível ter nas mãos, de uma só vez, tanta riqueza; e segurar na ponta dos seus dedos me dá essa sensação: como se eu estivesse carregando a melhor parte do mundo.
Quando eu te conheci voltei a acreditar na humanidade e no amor. O problema é que quanto mais eu me conheço, deixo de acreditar. Um dia você me perguntou quem me ensinou a ser a pessoa que eu sou; eu te faço a mesma pergunta. Quem te ensinou? Porque às vezes eu me esqueço, mas quando te olho acho que você aprendeu melhor que eu. Quem te ensinou? Por que eu esqueço?
Porque eu sou esse piano triste que se repete sem fim, porque eu sou apaixonada pela melancolia dos graves e a agonia dos agudos. Porque paixão é combustível e isso não combina mais com a minha idade, mas eu afundo a mesma tecla fugindo dos armários como diabo corre da cruz. Porque eu gosto de andar na sombra e ouvir piano no fone de ouvido, outro dia não gosto mais. Outro dia gosto de abacaxi com canela ao forno e não preciso de mais nada. Por que eu esqueço?