Este não é um lamento, é só pra dizer que eu sinto muito.
Quando terminamos nossos planos foram colocados em caixas de papelão, identificadas com caneta Pilot e jogadas em um canto esquecido da casa. Por isso quando me perguntam se eu já estou bem, eu só peço calma. Calma, eu não preciso estar bem tão rápido. São muitos lutos, não foi só uma pessoa.
Alguns dos nossos planos vão ficar lá guardados pra sempre e outros ainda serão adaptados pra caber só um. “Nossa casa” na montanha vai virar “minha casa” e isso é naturalmente perturbador. Os cachorros imaginários que a gente teria, que já tinham nome e toda uma personalidade formada, foram abortados dentro de mim. São muitos lutos, não apenas projetos vazios.
Então bom dia pra você que, como eu, também fez planos, e hoje está diante das caixas fechadas tomando coragem pra abrir uma a uma e começar a limpeza. Eu sinto muito.
Eu ainda não quero começar a faxina, talvez nunca toque nas nossas coisas de novo e quem sabe eu só espere que outros planos sejam forjados do zero na minha cabeça mirabolante. Quem sabe pra deixar de ter que passar pelo luto eu nem faça mais planos.
Porque eu sei que o mundo lá fora não é melhor que a gente, e se a gente não deu certo, quem dirá…