Eu olhei a distante e quase encoberta flor de rosa. Era branca, amarela e cor-de-chá encolhida sob o verde da mata e o azul da noite. Cortei seu galho, adornei-me sutilmente a fim de torná-la parte de mim. Parte de algo. Não me pus a pensar que seria afronta tirar-lhe de seu lugar pra meu conforto, porque chamou-me. Por nome e sobrenome, chamou-me.
Ao redor, os pares de olhares eram para minha flor.
— Como teu sorriso combina-se à flor, posto que tens um sorriso de flor! Se fosse capaz pintaria-lhe uma tela! Atrevo-me a dizer, senhora, que teus cabelos ao sutil vento, emprestam sentido à beleza da flor. Talvez, agora, se o sábio que comanda o significado de todas as palavras lhe repousasse os olhos, lhe chamaria doce. Doce menina com sua flor. Estou certo que se pudesse ficar, lhe pintaria um quadro.
Passado um tempo, subi ao topo da ponte onde o vento não dá mais o favor. Ele, voraz, ameaçou arrancar-me à força a flor. Que triste fim teria por vê-la soltar-me e partir. Então, sem hesitar, tomei-a, olhei-a e libertei-a por minhas próprias mãos. Ela não dispôs-se a ficar. Não pertencia a mim como jamais pertencera à terra. Pertencia-se. Escolheu ir com o vento. Vi teus passos bailarem para longe, vi cair, vi repousar sobre a terra dura, não vi arrepender-se ou queixar-se. Vi partir em silêncio.
Olhei para o norte dando-lhe as costas. — É preciso praticar desprender-se — disse como se importasse convencer-me apenas. Penso que não foi efetivo, visto que ainda sinto sua falta. Escondi que interessava livrar-me da dor de perdê-la pelas mãos do destino que nos fora imposto.
Não posso me permitir finalizar sem antes registrar que o meu e o teu reflexo na janela do velho trem parecia quadro pintado parado ano após. Da mesma forma como deixei, a não ser pela flor. Não a velha flor dos meus olhos, que não mais se vê; mas a flor que tornei minha mesmo tendo visto partir.