O conto dos bombons

Ouve-se por aí uma história que se passou num vôo POA x RJ. Não se sabe ao certo se é conto ou verídico, então vou repassar da forma como ouvi.

Já passados cinco minutos do horário de partida do vôo 482 Porto Alegre x Rio, quando um grupo de oito pessoas embarcou no avião. Em seus rostos via-se o alívio por conseguirem lugar e, também, vergonha por serem o motivo do atraso. Cada qual sentou-se onde podia, nos assentos vagos espalhados pelo avião. Um casal aproveitou o alvoroço pra trocar de fileira, saíram dos fundos para a primeira fila que ainda mantinha poltronas desocupadas.

Após a decolagem, ao sinal de liberação para desatar os cintos, três comissárias de bordo começaram a distribuir bombons a partir da última fileira do avião. As crianças imediatamente aumentaram o tom; os adultos, mesmo com aquele típico ar de indiferença disfarçada, se apressaram em desembrulhar o pequeno presente para aliviar a tensão do vôo.

Faltando quatro fileiras para o fim as aeromoças, com tom encarecido, anunciaram que os bombons haviam acabado. Alguns forçaram reclamações descontraídas, outros se monstraram extremamente insatisfeitos com bufadas altas. Cerca de oito pessoas que compraram suas passagens com antecedência, inclusive o casal que trocou de assento, ficaram sem seu agrado por causa do grupo que embarcou antes da partida.

Enquanto as aeromoças se desculpavam uma menininha vem correndo pelo corredor com seu bombom pro alto:

_ Moça de azul! Toma o meu!

Logo atrás vem o pai da criança, que também entrega um bombom, pega a mão da filha e volta pro seu lugar. As comissárias e os ocupantes das primeiras fileiras ficaram admirados. Imediatamente alguns braços tímidos se estenderam em diversas fileiras. Braços de doadores de bombons. As “moças de azul”, agradecidas, se apressaram em recolher um a um (e todos foram felizes para sempre).

Eu não sei bem qual a moral dessa história. Talvez seja o ato de repartir, talvez seja ter esperança em ser surpreendido por boas ações. Contar com mais pessoas no seu voo na hora de comprar bombons. Alguém diria que a moral é sempre sentar nos fundos porque é a maior probabilidade de se começar a distribuir os quitutes… Mas a minha moral, hoje, é de ser o primeiro. Ser a garotinha que não tem vergonha de estar sendo boba oferecendo um bombom pra um adulto. Os demais passageiros foram rápidos em aderir à causa então está claro que já tinham a boa intenção, mas não quiseram ser os primeiros: _ Se alguém for, eu vou.

O primeiro a puxar palmas, o primeiro a quebrar a corrente de mau humor. O primeiro a elogiar, a sorrir, a dizer que sente falta, a abraçar, a estender a mão, a perdoar, a levantar uma causa. Eu acho, sinceramente, que esse cara pode contar mais experiências em relação aos que vivem na inércia de apenas ir com a multidão.

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