Todas as formas de dizer “Eu te amo” #7

Eu desci a escada do prédio com meus fones, como fazia toda as tardes. Andei até a faixa de pedestre quando o Dj Shuffle mandou No Expetations do Rolling Stones. Parei no sinal vermelho e vi, do outro lado da rua, ela.

Ela.

De vestido cinza pouco acima do joelho e cabelo já bem maior do que no nosso último encontro… Naquele dia que, sem cerimônia, fui embora depois de pegar de volta minha guitarra do Xbox.

Eu que achava o cabelo dela curto mais bonito e reclamava que esse negócio de usar as pontas mais claras não era pra ela. Eu que só implicava com os seus vestidos esquisitos e nunca dei a menor atenção pro que ela gostava. Esse cara queria atravessar a rua, de sinal fechado mesmo, e falar que ela era perfeita. Que sempre foi perfeita. Mesmo desengonçada, distraída, de cabelo grande de duas cores. Queria dizer que eu fui um idiota incapaz de respeitar a fragilidade dela e um otário de chamar isso de fraqueza. Queria atravessar e dizer que ela é a mulher mais linda que eu já conheci. Que esse foi meu pensamento todas as vezes que eu acordei do seu lado, avaliando desde o jeito dela de falar, de mastigar, de tentar me esconder as coisas, de sorrir, até o formato dos olhos dela, mas eu nunca quis dizer.

Se eu pude formular tudo isso em tão poucos segundos, pode ser que meu subconsciente já estivesse articulando esse encontro há algum tempo. Talvez ela me dê um tapa, ou sorria e pergunte porque eu demorei tanto pra voltar. E eu responderia que não voltei, só passei pra dizer isso e a ideia era continuar seguindo minha vida. Talvez ela me desse um tapa nessa hora, então.

Não, eu também não sei como é possível achar alguém maravilhosa sem querer pra si. As pessoas querem respostas como se todas as perguntas tivessem uma. Eu também não sei.

Andei duas quadras e atravessei em outro sinal.

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