Saudade dos dias que amei

E no dia da saudade eu desenterro um monte de fotos, bilhetes e cartas marcadas por rios de lágrimas. Cliche escrever sobre saudade no dia 30 de janeiro, mas simplesmente aconteceu.

Eu acredito que a nossa memória – a de pessoas normais sem problemas psicológicos sérios – foi feita pra nos mostrar que tudo passa. Mesmo. Às vezes olho pra essa foto (capa do post) e sinto uma saudade enorme daquele dia, só que o estranho disso é que não havia nada de bom na minha vida naquela época. Eu estava um caos na verdade, mas, sei lá, quando eu olho pra trás eu penso: cara, não devia ter sido tão ruim assim, eu nem lembro da dor. Só lembro pelas datas que as coisas estavam seriamente muito feias pra mim. Mas eu me vejo sorrindo e esse sorriso foi o que ficou, e se eu estou aqui até hoje é porque por pior que tenha sido a fase, ela passou.

Eu sei que a saudade não pode nos impedir de progredir, de seguir em frente, de aceitar que as coisas mudaram, mas a verdade é que eu tenho saudade sim de uma vida que não é mais minha. Não quero ser absurdamente contraditória, mas quando se trata de coisas do passado eu consigo afirmar que amor existe. E amor talvez seja isso de nunca deixar esquecer uma etapa de vida que foi verdadeiramente amada e de nunca deixar passar. E é sobre essa saudade que eu quero contar: saudade dos dias que amei.

Eu tenho absoluta certeza que a bagagem da vida não tem nada a ver com bens materiais, mas as lembranças são nossos bens mais pesados. Olhando fotos antigas de uma viagem em família eu revejo o cenário idêntico como era na época, mas na minha imaginação de hoje as praias do nordeste são muito mais bonitas que no próprio dia. Eu também vejo nossas fotos de Maio e imagino que tudo era muito melhor do que realmente foi. E amor talvez seja isso, de nunca deixar esquecer momentos bons, ocultando a parte ruim que traria o sofrimento junto. E as lembranças, quanto mais antigas, são um conforto de que SEMPRE a parte ruim vai ficar pra trás. Hoje pode parecer um caos urbano, mas vai passar.

Nessas horas é necessário ser firme e não confundir essa saudade com real vontade de voltar atrás. As minhas memórias são lindas e se puder novamente viajar para os lugares que já fui, eu irei. Se eu puder reencontrar meus amigos eu irei, mas farei isso no presente. Não foi sempre assim, eu tive que aprender sobre isso, mas hoje não tenho desejo de voltar aos dias dourados. Saudade não pode ser uma doença que te arrasta pra baixo. E amor talvez seja isso, de nunca deixar esquecer… mas sem te atrasar. Quando você sente saudade de algo que amou verdadeiramente, ele retribui de forma tão bondosa sem te confundir. Não te deixa olhar pra trás com vontade de se afogar nas lembranças.

Porque o amor é sim perfeito e claro. Não te deixa tomar decisões definitivas erradas. Amor não tem medo de arriscar, não tem orgulho. Enquanto a paixão cega, o amor revela. Ele te faz lutar até o fim e onde há entrega não existe arrependimento pelo que não se fez. Então se o amor deixou o tempo passar pra virar saudade, é porque era pra passar.

Esclareça suas saudades. Resolva o passado e se entregue a criar novas saudades saudáveis. Pra que seja saudável, seja verdadeiro… Seja o mais honesto que você puder ser com você mesmo e com as pessoas que te cercam. Jamais em toda sua vida tente se enganar ou enganar alguém. Pode ser que um ser humano honesto não chegue tão alto quanto os outros, mas pode ser que altura seja o ponto de vista errado pra classificar quem vence e quem perde na vida.

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