Sobre minha capacidade de amar, eu digo que se restringiu, muitos dirão que se limitou,  poucos dirão que se refinou, à música. Coisa que eu não entendo e que não me quis. Coisa que eu não sei usar, nem manusear, só respirar seu som e escutar suas linhas curvas.

E eu me desfaço diante de um piano. Posso me ver de longe, pálida e sem nenhuma alma, enquanto ouço. Porque parece mesmo que a alma sai pra espairecer. Não sei se tem lugar no corpo pra ela e, ao mesmo tempo, para as notas de um piano. É, eu sofro de amor platônico pelos pianos…

Admiro e respeito o romance deles com violinos e violoncelos, mas meu lugar é na plateia; apesar de ainda sonhar escondida em me trancar naquele quarto com minha música favorita. E ali, jamais interpretar ou reproduzir. Quiçá tocar, que tolice! É a música que me toca. No meu sonho eu reconstruo. Imagino um castelo, uma construção mitológica feita pra abrigar deuses; em ruínas. E ao som de cada nota uma coluna se levanta, no compasso da música, até sua completa redenção. E eu choraria por toda extensão porque é assim mesmo: a alma tem que fugir de algum jeito.

Eu admiro tanto quem conversa com pianos.

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