O Destino das Conchas

Eu sou uma pessoa muito ansiosa. Mas não mais ansiosa que qualquer outra pessoa normalmente ansiosa. Costumo escutar as pessoas falarem que são muito alguma coisa. E elas dizem coisas ruins de si mesmas, sempre extrapolando: “Sou muito chata com isso”, “Sou muito louco mesmo”, “Eu sou muito perfeccionista!”. Não consigo achar outro motivo pra isso senão a vontade de ser especial. Ninguém quer ser muito chato ou muito louco, mas ninguém quer ser igual a todo mundo. Eu sou ansiosa, mas minha ansiedade não é especial. Nada em mim é especial, a não ser você. Estou te dizendo isso porque quero que você me conheça enquanto eu te conto sua história.

Eu deveria ter começado a escrever a meses atrás, mas tive medo de quem eu seria. Um personagem que nunca soube o que fazer e deixou apenas as coisas acontecerem. Um personagem que errou do primeiro capítulo até o último. Eu tive medo de irritar você, escrever mil páginas pra te ver rasgar o livro ao meio e dizer que eu estraguei tudo; que você, ainda criança, teria feito muito melhor. Não tenho orgulho de confessar por escrito que selei um destino ruim pra três pessoas que tinham um coração maravilhoso. Mas eu decidi ir em frente e te contar, porque se eu tivesse mudado uma vírgula de lugar você não existiria. Fique sabendo que te esperar foi a decisão mais difícil da minha vida, mas a mais acertada.

Para fugir de surpresas, eu costumo ler o penúltimo capítulo de um livro antes do início; mas nos últimos nove meses eu resolvi fazer diferente. Estou te escrevendo do quarto 316 e daqui a algumas horas eu vou ver seu rosto pela primeira vez. Não sei ainda qual será o seu nome, Carolina ou Davi. A sua avó queria que fosse Ana Carolina e seu pai jamais imaginou que seria pai. Ele jamais imaginou que seria o pai mais incrível!

Antes que eu fique emotiva demais, vou me despedir.
Não faça como eu, não leia do final pra frente.
Um Beijo,
Ana

Capítulo I – Annapolis

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