A gente deveria ter sido. Sido. Um do outro. Pertencentes. Existentes na mesma página. Ou completos estranhos. A gente deveria ter sido qualquer coisa! Mas não temos nem história, daquelas com início, meio, fim…
Fim? Sequer fomos até o fim! Temos contos rascunhados, escritos em cadernos velhos, esquecidos nas minhas gavetas e na sua lixeira, e todos terminam com meu choro e reticências… Temos pedaços de poemas que, às vezes, eu volto pra corrigir… Corrigir o tempo verbal e as circunstâncias. Dizer ora que te amei, ora que te amo, ora que vou te odiar pra sempre. As rimas não sei se mudo pra aprimorar, em favor da arte, ou se podo pra manter o poema vivo, esperançoso por fechamento.
Você não devia sentar na sua sala, olhar pela janela e ver o banco da praça onde a gente se viu pela quase última vez. A gente deveria voltar nessa praça todo ano pra lembrar como tudo continuou. Ou eu deveria ter seu tchau declarado, ali mesmo. Um simples adeus definitivo. E não teus olhos crentes que nunca nos veremos pela última vez, nem essa minha certeza que você pode me encontrar em qualquer lugar do mundo, de olhos fechados, quando quiser.
A gente deveria ter sido amantes, em data de Copa do Mundo, no meio de toda aquela bagunça verde e amarela. Não viver na dúvida do que teria acontecido se pegássemos um taxi rumo a um motel, só pra ter uma conversa privada, em tempo do Brasil ser campeão. Parecia uma ideia estúpida, mas eu deveria ter essa lembrança pra remoer.
A gente deveria ter sido mais, ou nada; mas jamais esse beco-com-saída em que paramos pra sentar. Por minha culpa, eu sei. Você sempre esteve disposto a abrir novo parágrafo, você tentou me convencer e falhou incontáveis vezes. Até nosso prazo de validade vencer. Até quando não era mais possível voltar atrás. Até todas as explicações não fazerem mais sentido, e não importar mais contar que a tua certeza me dava medo. Medo de errar com quem jamais errou comigo. De novo.
A gente deveria ter sido céu aberto, ou chuva. Jamais essa nuvem parada no tempo.