No domingo passado, dia 10, eu passei seis horas e trinta minutos no trânsito, e isso me deu muito tempo pra pensar. Quando passo pelo Elevado do Joá, eu sempre penso na morte e domingo passei três vezes por lá. É estranho dizer isso sobre o Joá porque é um lugar extremamente lindo. Mas lá estava eu, dia, tarde e noite, pensando na morte.
Ontem, minha mãe me contou a história de uma conhecida dela que perdeu o pai e o marido no mesmo acidente. Eles foram viajar de carro pra Minas Gerais onde o marido daria um carro ao pai, então ambos teriam que ir juntos buscar. Mas sofreram um acidente e nunca voltaram. Ela terminou a história dizendo que a gente não deve ficar pensando nisso. Não, mas… Assim como no Joá, eu penso na morte quando estou diante de coisas lindas. E eu tenho estado diante de coisas lindas todos os dias.
Esse desabafo é pra contar como considero a morte por tragédia uma grande traição da vida. Doce e ao mesmo tempo cruel. Ela nos oferece coisas maravilhosas como passar pelo Joá às 11h e ver Rio sendo lindo, indo em direção à casa do seu pai, seu maravilhoso e perfeito pai. E lá estará sua mãe, sua irmã e os dois filhos dela, dentre eles o bebê mais gostoso da Terra. E a gente só pode se contentar em não está morto já. Agorinha. Pois daqui a cinco minutos, nada mais.
E você ver a morte depois de conquistar seus sonhos, depois de ter visto as mais belas paisagens no mundo… Ver a morte depois de saber que tem a melhor família que existe, depois que seu filho segura sua mão pela primeira vez, ver a morte depois de conhecer o amor, depois de encontrar o que te faz pensar que é o que você quer pela vida inteira… O que quer que seja a felicidade pra cada pessoa, ver a morte depois de conhecê-la… Vão dizer que é “ótimo, porque esta pessoa morreu feliz”. Não. Essa pessoa MORREU.
Não me importa quem está no comando da vida. É um psicopata. E se não tem ninguém no comando, se estamos aqui apenas à mercê das leis da física, foi um psicopata que deu início a isso tudo.
Eu quis escrever este texto logo no domingo, mas procrastinei, e então morreu Robin Willians. Alias, um homem invejado por milhares, em um momento de depressão, tirou sua própria vida. Se depressão é uma doença, não existe suicídio, a doença o matou. Mas depois da morte de Eduardo Campos, e do assessor, do fotógrafo, do sobrinho, de todos mais que estavam no avião, depois de ver esse vídeo tão politicamente uma gracinha feito pra ele… Continuo pensando na morte.